Michael Jackson, um fenômeno sem precedentes comparado a Franz Liszt por Artur Moreira Lima
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Michael Jackson, um fenômeno sem precedentes comparado a Franz Liszt por Artur Moreira Lima
Segundo Millôr Fernandes, a
verdade é o mito, ou o mito
se torna verdade.
É justamente o
mito que vai contar a história,
projetando-a no futuro.
Michael
Jackson, um fenômeno sem precedentes,
morrendo há um ano ainda em
pleno vigor da sua capacidade artística,
garantiu um lugar perene na
galeria dos mitos.
Não sou entendido em música pop, o que
deve até ajudar, no sentido de
poder avaliar sem paixões, portanto,
mais objetivamente, uma vez que
minha profissão de músico clássico
(ou erudito, como querem alguns) lida
sobretudo com a estética.
Sob esse aspecto, as performances e
espetáculos de Michael foram
simplesmente espetaculares, empolgantes,
deslumbrantes, um talento
genial com uma equipe formidável, sabendo usar
toda a tecnologia a
seu favor.
Lembrando a música do Romantismo do século 19,
diríamos que o
primeiro "artista pop" daquela época foi Franz Liszt,
até hoje
considerado o maior pianista de todos os tempos.
Foi
criança prodígio,
assim como Michael. Também compositor e maestro,
inquieto, inovador e um
dos que prenunciaram, prepararam e apoiaram a
música do futuro, como se
dizia na época.
Richard Wagner,
protegido por Liszt, cujo prestígio era
enorme, foi o grande
inovador, a ponte entre o Romantismo e o que viria
depois,
Impressionismo, Dodecafonismo e outros ismos do final do século
19 e
início do 20.
Liszt revolucionou o concerto-espetáculo, inventou
o recital solo e
deu aos sisudos concertos e recitais um pique de
show.
Da mesma maneira,
Michael Jackson provocou uma
revolução nos shows pop sob todos os
aspectos. A performance tomou
uma importância até então nunca sonhada.
No caso, é o "espetáculo
total", este também, mutatis mutandis,
idealizado por Wagner em suas
óperas.
As coreografias de Jackson,
imaginativas e
tecnicamente irrepreensíveis, com profusão de tipos
variados e
estranhos, completam com os recursos de luz, som e demais
parafernálias,
o sonhado "espetáculo total".
Na parte "dança", Michael é um
continuador de Fred Astaire e Gene
Kelly. Claro, os tempos são
outros. Foram levados para o palco os
efeitos cinematográficos e
realizados truques até então impensáveis.
A
equipe foi
fundamental para alcançar o sucesso, proporcionado pelos
resultados
artísticos que puderam aproveitar o estouro dos clipes no
mercado.
Michael Jackson foi, como Franz Liszt, sobretudo, um filho
da sua
época. Partiu deixando saudade junto a um trabalho
consistente,
marcante, típico do período mais rápido e inquieto da
história da
humanidade.
ARTHUR MOREIRA LIMA É
PIANISTA
http://www.estadao.com.br/estadaodehoje/20100619/not_imp568978,0.php
Fonte: Izilda
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